quarta-feira, 7 de maio de 2014

Crônica pra não sonhar

Crônica pra não sonhar


Ainda não consigo acreditar que foi tudo um sonho. Desses que acordamos na melhor parte. Desses que sonhamos com os olhos abertos e temos a ligeira impressão de que é real. Eu sempre achei que estava sonhando, ela me garantiu que não, e sonhando ou não, me deixei levar pelo caminho que surgia. Desfiz qualquer linha entre ilusão e realidade. E tudo me pareceu muito real: dos sentidos físicos aos psicológicos, das noites passadas às utopias futuras, não restavam dúvidas sobre a concretude do que estava acontecendo. Universos foram criados dentro desta viagem, fui conduzido como uma folha caída sobre o curso de um rio, como uma criança numa venda de doces, como um poeta a vagar numa floresta de sonhos lúcidos. Minha alma atingiu todos os ápices possíveis. Não faltou tinta na caneta, não faltou açúcar no café, não faltou fome antropofágica, não faltou amor escrito com sangue na testa.

Faltou fôlego de uma hora pra outra.

E sem força, a luz foi escurecendo, tudo foi adormecendo, morrendo subitamente, como um pássaro azul que leva um tiro em pleno voo. Do nada fui obrigado a despertar caindo da cama, tomando um choque de realidade, uma sensação parecida com a de um bebê ao de sair do útero da mãe.

Para onde foi toda a magia ainda é um mistério, para onde foi o Sol, o Céu, e os Universos criados também. Há hipóteses (que pouco importam). Se foi mesmo um sonho eu não sei, mas sei que é o único que me recordo de todas as cenas.

Agora durmo com medo de sonhar, e acordo dançando uma valsa com a ilusão.


(David Henrique)




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